sábado, 4 de agosto de 2012

Mitos: Caim, Abel e o eterno fratricídio




Quero “reinaugurar” meu blog postando um documentário interessante sobre Caim e Abel. O vídeo está no final do post.

Como eu sei que a preguiça reinará em alguns – o documentário é extenso -, vou colocar aqui um resumo do trabalho da Discovery Channel.

Como todo mundo sabe, Caim e Abel foram filhos de Adão e Eva, o primeiro casal do mundo, de acordo com a tradição abraamica, da qual se desenvolveu as atuais religiões judaicas, cristãs e islâmicas.

De acordo com o Genesis, na bíblia cristã, Caim era agricultor e Abel, pastor de ovelhas. Em um belo dia, ambos resolveram fazer uma oferenda a Deus, aquele com parte da colheita de seu trabalho e este com o primogênito de suas ovelhas. O Senhor, por razões não muito claras, preferiu a oferta gordurosa de Abel, despertando ciúmes e indignação a Caim.



Revoltado, Caim convida Abel para dar uma volta ao campo e lá mata seu irmão. Pronto, resta configurado o primeiro homicídio da história (pelo menos de acordo com essas religiões). Deus, então, castiga Caim pelo seu crime, obrigando-o a levar vida errante. Para que Caim não fosse atingido pela ira das demais pessoas – outro ponto polêmico, já que fora aquela família não haveria como ter outras pessoas pelo mundo-, Deus lhe dá um sinal para sua “proteção”.

No presente documentário, vários estudiosos discutem a origem da história e por que as coisas se sucederam de tal forma. Por que Deus preferiu a oferta de Abel? Se naquela época nunca houvera assassinato, como Caim teve a ideia de fazer isso? Que sinal foi esse que Deus deu a Caim? Como se pode ver a Bíblia mais complica que explica.

Na religião islâmica, o alcorão traz uma versão mais detalhada do conto de Caim e Abel (os árabes sempre foram bons contadores de história, não me estranha eles terem uma versão mais “completa”. Há o fato temporal também, são textos mais recentes que o Genesis). O fato de Deus não ter se agradado da oferta de Caim é que ele já alimentava maus pensamentos dentro de si. É que Caim era a fim de uma irmã, a qual já estava comprometida com Abel. O pobre Caim não tinha muita sorte comparado ao irmão, por isso o ciúme não foi uma coisa repentina.

Nessa versão, o diabo (sempre ele) é quem ensina a Caim a como proceder no crime.



Agora, a parte mais interessante. Os egípcios, antes da codificação dos textos hebraicos, já possuíam uma lenda um tanto familiar: os deuses Osíris e Seth eram apaixonados por uma irmã, Ísis, sendo que o primeiro tinha conquistado o coração da deusa. Seth, além da frustração amorosa, dominava apenas o deserto, enquanto Osíris dominava o Egito e a agricultura tendo, portanto, mais prestígio. No fim, Seth acaba com o Osíris e o divide em várias partes, espalhando-as pelo mundo.



Que tal irmos mais longe na viagem ao passado? Segundo registros arqueológicos, houve ainda na era neolítica (que inicia há uns 10.000 anos antes de Cristo), período em que os humanos passam pelo processo de sedentarização e passam a dominar a agricultura e a domesticação de animais, um conflito violento entre pastores e lavradores. Tal feito só foi registrado muitos anos depois, pelos sumérios, povo que desenvolveu a primeira forma de escrita conhecida.

De acordo com a lenda suméria, o deus-pastor Tamuz também tinha uma paixão pela deusa Inanna, que era cobiçada pelo deus da agricultura, Enkidu. Os três eram irmãos.



Desta forma, dada a semelhança das histórias, provavelmente temos as raízes do surgimento do mito de Caim e Abel.

O documentário também aborda os problemas oriundos do sinal de Caim. Ninguém sabe ao certo que sinal foi esse, mas muitos já cometeram atrocidades por conta disso. Muitos defenderam que o sinal de Caim era a cor de pele negra, outros associavam à descendência judaica. Esses povos sofreram muito por causa dessa especulação barata, que foi conduzida por interesses políticos e econômicos disfarçados de legitimidade moral e espiritual.

No mais, é muito provável que a história dos irmãos Caim e Abel seja uma revisão de antigas lendas sumérias e egípcias que, por conta do seu significado, deve ter sido absorvida pelos hebreus. É um fato irônico, já que muitos condenam certas práticas católicas ou de outras culturas por serem revisões de hábitos pagãos (a veneração à Virgem Maria, por exemplo, associada ao culto de deusas antigas) e, no fim, a própria Bíblia se alicerça nessas culturas “rivais” dos seus próprios escritores.

Por fim, uma análise simbólica: O primeiro crime do mundo ser representado na Bíblia com um fratricídio não foi por acaso (embora não houvesse muitas opções nas circunstâncias desta história). É uma alegoria na qual todo mundo deve ter a consciência de que quando lesionamos alguém, lesionamos um irmão. Além disso, quando Caim fala a Deus que não é tutor/guarda do seu irmão (Gn 4:9) indica a tendência humana de não se importar com o outro, de não se sentir responsável pelo o que acontece com o nosso semelhante. Também demonstra a indisciplina humana quanto às emoções, que levam o homem a cometer atos vis e inconsequentes. Até hoje, os irmãos se matam pelos mesmos motivos egoístas e intolerantes. 

Confiram o documentário aqui:


Bônus:


Abraços!

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